Como os filhos soletram amor?
“Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante”, ensina-nos Antoine de Saint-Exupéry. Por mais que digamos aos nossos filhos que o amamos, será que nossos atos confirmam essas palavras?
Minha amada mãe contava sempre essa história para mim (Silvio), a do dia em que ela chegou em casa e viu meu irmão chamando a funcionária doméstica de mamãe. Minha mãe, que nasceu muito pobre, na roça, colocou o primeiro sapato nos pés na adolescência, ralou muito para conseguir ser professora. Ela conseguiu se formar em cinco graduações diferentes na Unesp, e conquistou uma invejável reputação profissional. Imagine isso na década de 70, em Presidente Prudente, interior de São Paulo. Mas quando viu seu filho confundindo-a com a babá, percebeu que algo estava em descompasso. Percebeu que amor e tempo eram indissociáveis. E como a pessoa que encontrou uma pérola preciosa, ela foi, vendeu tudo o que tinha, e comprou sua jóia rara. Renunciando a tudo o que tinha conquistado, ela nos tornou quem nós somos, por meio do seu amor e do seu tempo.
Segundo uma pesquisa realizada em Israel pelo professor Amos Rolider, os pais desaprenderam a expressar amor com tempo. Estima-se que atualmente, os pais dedicam apenas 14 minutos e meio por dia a suas crianças no país. Há 20 anos o tempo de dedicação de pais para filhos era de pelo menos 2 horas.
Ainda de acordo com outra pesquisa divulgada no “Journal of Marriage and Family", sabe-se que “adolescentes que passam uma média de seis horas por semana envolvidos em atividades com os pais, como refeições e jogos, não apenas possuem notas mais altas, mas são menos propensos a beber, usar drogas ou praticar outros comportamentos delinqüentes”.
Ouvimos muito falar que é preferível pouco tempo, mas de qualidade, com nossos filhos, do que muito tempo sem qualidade. É verdade. Mas essa dicotomia não precisa ser a régua da nossa conduta. Mais tempo não tem que ser acompanhado de baixa qualidade. É o tempo que dedicamos às nossas rosas que as tornam tão importantes, e que as fazem sentirem-se importantes. Se você não dedicar tempo ao seu filho, quem irá?