Sobre telas e realidade.
Você sabia que no principal polo tecnológico do planeta - o Vale do Silício - multiplicam-se o número de escolas onde o celular é simplesmente proibido? Pois é. Vai ver as mentes por trás do maior mercado de tecnologia do mundo sabem alguma coisa que nós não sabemos.
Segundo uma matéria do El País, na escola particular onde são educados os filhos de altos executivos da Apple e Google na Califórnia, as telas só são permitidas a partir dos 14 anos. Segundo Pierre Laurent, pai de três filhos, engenheiro de computação que trabalhou na Microsoft, “criatividade é algo essencialmente humano. Se você coloca uma tela diante de uma criança pequena, você limita suas habilidades motoras, sua tendência a se expandir, sua capacidade de concentração”. Laurent ainda alerta para uma mudança importante no modelo de negócios nos últimos anos: “Antes queríamos que o usuário ficasse feliz em comprar o produto. Agora, com smartphones e tablets, o modelo de negócios é diferente: o produto é gratuito, mas são coletados dados e colocados anúncios. Portanto, o objetivo hoje é que o usuário passe mais tempo no aplicativo, a fim de coletarem mais dados (…) Ou seja, a razão de ser do aplicativo é que o usuário gaste o máximo de tempo possível diante da tela. Eles são projetados para isso”.
Ou em outras palavras: os novos apps são projetados para viciar o usuário. É impossível não lembrar das palavras de Bill Gates, criador da Microsoft: “Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever – inclusive a sua própria história”.
Até os 14 anos, seus três filhos não tiveram celular: “Eles reclamavam que as outras crianças já tinham”.
Não se trata de travar uma guerra contra a tecnologia, mas de tirar proveito para o desenvolvimento dos nossos filhos. Isso se faz com limites claros, regras razoáveis e com avaliação constante do comportamento dos nossos filhos. Não espere iniciativa dos seus filhos para criar essas regras; muitos já são dependentes. Lidere-os nessa trajetória. Quanto mais atentos nossos filhos estiverem às notificações do celular, menos atentos estarão às lições que só a vida real é capaz de dar.